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Capacitismo: o que é, exemplos, consequências e como combater

Imagem para o texto sobre capacitismo: ilustração de uma pessoa sentada em uma cadeira olhando para baixo e cobrindo o rosto com as mãos. Atrás dele existe uma parede azul. Fim da descrição.

Talvez o Capacitismo seja o conceito que você menos conheça em relação à discriminação de grupos minorizados. Caracterizados como segmentos sociais, étnicos, gêneros ou outros, que independente da quantidade, possuem baixa representação política, social, econômica, eles também são nomeados, minorias e grupos minoritários. 

O sexismo em relação às mulheres, o racismo contra as pessoas negras e a homofobia, transfobia e outras formas de discriminação de gênero em relação ao grupo LGBTQIA+, são conceitos que já são mais amplamente debatidos na pauta nacional e ganharam destaque nos últimos anos. Isso se deve graças a eventos de alcance nacional, como a Parada do Orgulho LGBT, e programas de entretenimento na TV aberta, como o caso do Big Brother Brasil, que mobiliza a audiência com estas pautas.

O que é capacitismo?

A palavra “capacitismo” significa a discriminação de pessoas com deficiência, sua tradução para o inglês é ableism. O termo é pautado na construção social de um corpo padrão, sem deficiência, denominado como “normal” e da subestimação da capacidade e aptidão de pessoas em virtude de suas deficiências.

O Capacitismo é considerado uma forma de preconceito, comumente vindo de pessoas sem deficiência, que pré-julgam a capacidade e habilidades das pessoas com deficiência com base apenas no que elas acreditam sobre aquela condição.

Muitas pessoas não têm conhecimento algum sobre o capacitismo devido a falta de debate pela população. Pouco se discute hoje em dia sobre o descumprimento da legislação que garante o direito e participação plena da pessoa com deficiência na sociedade. Esse comportamento apenas agrava esta forma de preconceito, pois é uma maneira de perpetuar a crença de que as pessoas com deficiência não são capazes de atuar ativamente na sociedade, o que é um grande equívoco.

O capacitismo camuflando acontece quando, de tão estrutural e inconsciente que é a discriminação em razão da deficiência, muitas pessoas se referem às pessoas com deficiência com um certo “heroísmo”, ou em outras palavras, uma supervalorização da realização de tarefas básicas, por exemplo.

O que é uma pessoa capacitista?

Capacitista é como são chamadas as pessoas que possuem crenças limitantes a respeito das pessoas com deficiência. Elas as julgam de modo que as excluem da sociedade, seja em uma roda de conversa ou até mesmo no mercado de trabalho.

Também são consideradas capacitistas aquelas pessoas que fazem “brincadeiras” apontando suas deficiências. Ou ainda aquelas frases que se referem às pessoas sem deficiência, mas usando alguma deficiência de modo pejorativo. Vamos falar mais sobre algumas expressões capacitistas mais adiante no texto. 

O que é capacitismo no Brasil?

No Brasil, existem algumas leis que garantem o direito da pessoa com deficiência e sua inclusão na sociedade. Como é o caso da LBI (Lei Brasileira de Inclusão), que contempla desde acessibilidade em estabelecimentos comerciais, como também no ambiente digital, na educação e no trabalho, além de também punir pessoas e organizações que desrespeitam e agridem as pessoas com deficiência.

Com os devidos recursos de acessibilidade aplicados, na maioria das vezes, as pessoas com deficiência conseguem cumprir com suas atividades com autonomia e independência. Isso promove sua participação de forma plena na sociedade, incluindo na educação e no mercado de trabalho. 

Quando esses regulamentos não são respeitados em nosso país, seja por negligência ou má fé, também podemos considerar uma forma de capacitismo.

#ÉCapacitismoQuando

Em 2016, no Dia Internacional da Pessoa com Deficiência (comemorado mundialmente todo dia 3 de dezembro), um grupo de amigos com deficiências físicas se uniram para criar a hashtag #ÉCapacitismoQuando, com o objetivo de dar força para o debate. A partir de relatos sobre atitudes cotidianas que caracterizam a lógica capacitista que nossa sociedade está acostumada a enxergar a deficiência, como exceção, condição a ser superada ou corrigida, e não como diversidade e valorização do respeito às diferenças. 

A seguir, alguns tweets que fizeram parte do movimento e que exemplificam algumas situações diárias muito comuns às pessoas com deficiência, impregnadas desse tipo de atitude:

“Você diz que todos nós temos alguma deficiência”, “quando você diz: eu sou normal!”, “te tratam feito criança devido a sua deficiência, mas você já é adulto.”, “você espera que pessoas com deficiência tenham sempre algo nobre a ensinar”, eu tenho que falar mil coisas sobre minha profissão antes de você realmente começar a acreditar que eu trabalho MESMO”. 

 

Quais são os tipos de capacitismo?

Segundo o Guia Anti Capacitista, escrito por Ivan Baron, um influenciador nordestino, existem 3 tipos de capacitismo: 

  • Capacitismo Médico: Muitas pessoas se referem equivocadamente a pessoas com deficiência como se fossem ou estivessem doentes. Isso é chamado de capacitismo médico.
  • Capacitismo Recreativo: Este termo é usado para definir o tipo de capacitismo mais comum entre a sociedade. Se refere àquelas brincadeiras de mau gosto envolvendo deficiências.
  • Capacitismo Institucional:  Este tipo de capacitismo acontece quando as organizações contratam apenas uma cota de pessoas com deficiência e não as trata com equidade em relação aos colaboradores sem deficiência. Isso também é percebido na falta de acessibilidade presente nestes lugares.

Exemplos de frases capacitistas

Muitas pessoas, até mesmo pela falta de conhecimento, acabam tendo comportamentos e reproduzindo frases capacitistas. Por isso, é muito importante buscar informações para que possamos fazer a diferença e quebrar esta corrente de preconceito. Então, aqui vão alguns exemplos de frases capacitadas para você tirar do seu vocabulário:

  • “Fingir demência”
  • “Dar uma de João sem braço”
  • “Não temos braço para fazer tudo isso”
  • “Dar uma mancada”
  • “Está cego/surdo?”
  • “Estou cego de raiva”
  • “Mais perdido que cego em tiroteio” 
  • “Para de ser retardado”
  • “Mudinho/ceguinho”
  • “Nem parece que você é uma pessoa com deficiência”
  • “Você não tem cara de autista”
  • Você não tem cara de surdo/surda
  • “Seu problema não tem cura?”
  • “Pensei que você era normal”
  • “Apesar de PCD, você parece feliz”
  • “A gente só recebe o fardo que consegue carregar”
  • “Será que seus filhos vão nascer normais?”
  • “Mas como você faz as coisas tendo essa deficiência?” 

Quais as consequências do capacitismo?

Uma das maiores consequências da exclusão das pessoas com deficiência é que isso as coloca em situação de vulnerabilidade, pois não recebem as mesmas oportunidades de educação e de trabalho. Sem contar os danos psicológicos e emocionais, já que ao serem diminuídas, não se sentem pertencentes. Muitas delas acabam precisando lidar com este sentimento sozinhas, por falta de acolhimento e compreensão de outras pessoas que não vivenciam isto na pele. 

Capacitismo é crime?

Sim e está previsto em lei! A Lei Brasileira de Inclusão (LBI), garante os direitos das pessoas com deficiência e um deles é o respeito! Por isso, atitudes preconceituosas contra as pessoas com deficiência, podem e devem ser punidas conforme a lei. Como foi o caso do Léo Lins, comediante que trabalhava na emissora SBT e fez uma “piada” capacitista, o que provocou sua demissão, entre outros processos. 

Como evitar o capacitismo?

Se referir à deficiência de uma pessoa para diminuí-la ou torná-la heroína é capacitismo. Então, tratar as pessoas com deficiência com equidade e respeito, é contribuir para uma sociedade não capacitista, mas existem alguns pontos de atenção que devemos levar em consideração:

Cuide de suas atitudes

Para evitar o capacitismo, é necessário se atentar a atitudes capacitistas tanto nossas quanto ao nosso redor. Subestimar as pessoas com deficiência, não acreditando na sua capacidade de concluir atividades é uma atitude capacitista. O mesmo acontece com a supervalorização quando elas realizam alguma atividade comum do cotidiano com autonomia. 

É fundamental sempre buscar informações, consumir conteúdos produzidos por pessoas com deficiência e aprender com quem vive isso na pele. Além disso, anteriormente listamos algumas palavras e expressões que estão enraizadas no vocabulário da sociedade e que devem ser extintas do nosso vocabulário. 

Inclusão é lei

Muitas pessoas não sabem, mas a inclusão social é contemplada pela Lei Brasileira de Inclusão (LBI), também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência. Ela é um conjunto de regulamentos que visam garantir os direitos das pessoas com deficiência, promovendo inclusão e cidadania para elas. 

Além disso, o artigo 4 diz que “toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação.”

Valorize a diversidade

Todas as pessoas são únicas, e que bom! A diversidade entre as pessoas é o que colore, diverte e enriquece o mundo. É isso que nos faz crescer e aprender uns com os outros. Por isso, a pluralidade, ou seja, aquilo que nos torna “diferente” do outro, nunca deve ser considerado um defeito. Quanto mais pessoas diversas, melhor somos em todos os sentidos. Por exemplo: no trabalho, quanto mais pessoas diferentes, mais ideias criativas teremos. Envolver pessoas com deficiência nos processos da empresa também é fundamental, pois elas têm voz e devem decidir pelo que querem. 

Nós falamos mais sobre a importância da diversidade e como lidar com ela em diferentes cenários no Link: festival digital de acessibilidade, que está disponível em nosso canal do YouTube

Como combater o capacitismo?

Para além das nossas práticas diárias de sempre colocar o respeito em primeiro lugar, também existem outras formas de combater o capacitismo, como:

Lei de Cotas para pessoas com deficiência

A Lei de Cotas para pessoas com deficiência (LEI Nº 8.213, DE 24 DE JULHO DE 1991) garante que essas pessoas sejam incluídas no mercado de trabalho. Ela determina que as empresas com mais de cem colaboradores devem ocupar uma porcentagem de seus cargos com pessoas com deficiência. Mas não vale contratar pessoas com deficiência só para cumprir cota. Existem muitos profissionais capacitados e que merecem ocupar seus espaços de direito.

Gere conhecimento sobre o assunto

Um dos primeiros passos para agir contra o capacitismo é saber de sua existência. Como mencionamos no início do texto, muitas pessoas nunca tiveram contato com o assunto. Então, o primeiro passo é informar e divulgar conteúdo educativo sobre capacitismo e seus impactos na sociedade e no ambiente de trabalho, através de cartilhas, palestras, dinâmicas, vídeos, depoimentos.

Estimule a formação de grupos

Criar e estimular espaços de compartilhamento de experiências entre PCDs e demais funcionários que desejam conhecer e apoiar o grupo é uma iniciativa que contribui para a construção de senso de pertencimento entre os participantes, servindo como uma rede de confiança para fortalecer esses profissionais contra a lógica capacitista.

A pesquisa de benchmarking “Panorama das Estratégias de Diversidade no Brasil e os Impactos da Covid-19” realizada em abril de 2020, mostrou que os grupos de afinidade/diversidade são uma das 10 ações mais recorrentes entre os programas de diversidade das empresas no Brasil, mostrando como sua popularidade cresceu ao longo dos últimos anos.

Através de atitudes como essas, seremos capazes de construir organizações cada vez mais acessíveis e inclusivas para a diversidade de profissionais, de modo a potencializar e valorizar todos seus recursos humanos.

Capacite as lideranças

Uma atitude importante para romper com a desvalorização e subestimação das capacidades profissionais de Pessoas com Deficiência é através de treinamentos sobre vieses inconscientes focados em deficiências, acessibilidade e linguagem inclusiva para todos líderes, mesmo àqueles que não possuem profissionais com deficiência em suas equipes.

Outra alternativa interessante é a de construir experiências sensoriais para estimular que mais pessoas coloquem a empatia em prática. O MetrôRio chegou a realizar uma ação em parceria com a startup Blend Edu, levando uma calçada sensorial, que seus colaboradores poderiam passar com uma cadeira de rodas ou de olhos vendados. A experiência foi uma forma de abrir o diálogo e falar sobre a importância da acessibilidade, tomando o cuidado para não reforçar nenhum aspecto do capacitismo.

Conclusão 

O capacitismo é uma forma de preconceito contra as pessoas com deficiência e que infelizmente está bastante enraizado no vocabulário e nas ações da sociedade. Para vencê-lo, todos nós precisamos fazer a nossa parte e tudo começa com uma boa dose de informação e atenção às nossas atitudes. 

Se você quer construir um mundo anti capacitista, comece a transformar os ambientes aos quais pertence e seja a mudança que quer ver no mundo!

Fundo azul escuro e llistras brancas finas. No canto esquerdo vê-se um pequeno livro azul com as logos da Hand Talk e da ASID, com o título "E-book grátis: Porque a sensibilização é a chave para uma empresa inclusiva". No centro da figura vê-se o mesmo título repetido. No canto direito há um botão retangular na cor verde com o texto "Baixe o ebook grátis" em azul, no centro. Fim da descrição.

Por Fernanda Foggetti da Hand Talk e Thalita Gelenske da Blend Edu

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