Em 2017, o Grupo Museus e Centros de Ciências Acessíveis (MCCAC), em parceria com Rede de Popularização da Ciência e da Tecnologia na América Latina e no Caribe (RedPop) lançou o inédito Guia de Museus e Centros de Ciências Acessíveis da América Latina e do Caribe que reúne informações sobre as diversas estratégias de acessibilidade de 110 instituições da região.
O Guia, que tem como objetivo disseminar as informações sobre acessibilidade desses espaços, possuía versões acessíveis em Português e Espanhol e poderia ser baixado gratuitamente na página da RedPop e instituições parceiras.
Entretanto, durante essa implantação encontramos um desafio: as páginas em que o Guia seria disponibilizado eram pouco acessíveis. Por essa razão, decidimos investir na criação de um site para o MCCAC que fosse minimamente acessível e que pudesse hospedar o Guia e outros materiais produzidos pelo grupo.
Por si só, criar um website para um grupo de pesquisa sem fins lucrativos, com profissionais de áreas diversas, mas nenhum de Tecnologia da Informação ou Web Design, já seria um desafio grande. Somado a isso, teríamos que implementar estratégias de acessibilidade que pareciam, a princípio, algo inatingível.
Foi, então, que me dispus a encarar essa demanda – porém como muita ousadia, já que sou físico de formação e o mais próximo da construção de um website que eu já tinha feito era a manutenção de um “Flogão” no início dos anos 2000.
Inicialmente, após rápidas pesquisas, descobrimos uma plataforma chamada Wix, que permitia a construção de websites de forma amigável e gratuita. Como não possuíamos muito conhecimento técnico e recursos financeiros, achamos que esta seria uma solução. Com isso, construímos a primeira versão do nosso site.
Porém, após uma reunião com a equipe da Movimento Web para todos (WPT) – que gentilmente fez a avaliação do site recém construído, recebemos um aviso: muita coisa poderia melhorar. Mas isto não foi o pior: descobrimos tarde demais que a plataforma Wix não era compatível com tradutores de Libras (Língua Brasileira de Sinais), algo que é crucial para um site que se propõe a ser acessível.
Diante disso, ouvimos o conselho dado pelo pessoal do WPT: esquecer o primeiro site e construir outro do ZERO, em outra plataforma (WordPress).
Construir um site no WordPress requer um grau um pouco maior de conhecimento técnico do que no Wix, e, além disso, a necessidade de contratar um domínio e de uma empresa de hospedagem.
Depois de muita pesquisas pela internet, descobri uma maneira de construir o site de forma “offline” no meu próprio PC enquanto os trâmites de domínio e hospedagem eram resolvidos. Lembrando que esse passo é totalmente dispensável, já que muitas plataformas de hospedagem possuem ferramentas construtoras de sites embarcadas.
Na construção do site, escolhemos um dos temas gratuitos do WordPress. A plataforma oferece a opção de filtrar quais templates possuem recursos de acessibilidade, facilitando muito a vida de quem não entende de HTML (nosso caso). A partir disso, fomos incorporando plugins de acessibilidade e nos guiando através de ferramentas que analisavam o site neste quesito, com a missão de deixá-lo o mais acessível possível – dentro de nossa limitação técnica e financeira, é claro.
Uma das ferramentas que utilizamos neste processo foi o avaliador do Movimento Web para Todos, que compara o nível de acessibilidade do seu site com o de outros analisados. Outra ferramenta é a WAVE, que faz uma análise mais aprofundada, apontando onde existem erros e o que pode ser melhorado.
Em paralelo, estávamos buscando uma forma de tornar o site e o Guia acessíveis em Libras. E então, veio a grande conquista: conseguimos a parceria com a Hand Talk, que nos possibilitou realizar a tradução do site para língua de sinais através da simples instalação de um plugin.
Fica a lição: É possível construir um site minimamente acessível com poucos recursos financeiros, SIM! Se tudo for feito com planejamento e com troca de experiências ao longo do processo, você pode fazer o seu website com muito menos dificuldades do que a gente. Implementar ações de acessibilidade em um site já construído é mais difícil, porém não é impossível.
A acessibilidade precisa ser incorporada à missão e ao planejamento estratégico das instituições, assim como fazer parte da natureza do website, e não ser apenas um amontoado de implementações soltas. Os dados do nosso próprio Guia mostram que ainda há uma estrada a ser percorrida, no caso dos museus e centros de ciências, em prol da acessibilidade e inclusão.
E os desafios ainda são muitos: como dificuldades financeiras e comunicacionais com o setor responsável pela construção das páginas – geralmente controlada pelo setor de TI -, ou pelo fato dos sites estarem associados a outras instituições maiores, em que o processo ainda não foi iniciado.
Por fim, sabemos que há sempre espaço para aperfeiçoamento e que, portanto, é fundamental que estejamos sempre atentos a novas modificações e ferramentas que possam facilitar essas implementações de acessibilidade. Não há website perfeito, por isso esteja sempre aberto a receber feedback e críticas!
Por: Willian Vieira de Abreu – Doutorando em Engenharia Nuclear (COPPE/UFRJ) e membro do Grupo MCCAC