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O que é surdocegueira?

Ilustração de duas pessoas se comunicando em Língua de Sinais Tátil, e sorrindo. A pessoa da esquerda está segurando uma bengala.

Talvez você já tenha se deparado com esse termo antes em algum lugar, mas não saiba exatamente o que ele significa. Ou talvez você entenda, mas ainda tenha várias dúvidas sobre essa deficiência. Não se preocupe, aqui nesse texto vamos te explicar um pouco mais sobre o que é a surdocegueira, seus diferentes tipos, e as formas de comunicação mais utilizadas pelas pessoas surdocegas 😉

Conhecendo a surdocegueira

Como comentamos ali em cima, a surdocegueira é um tipo de deficiência que compromete em diferentes graus a visão e audição das pessoas. Ela também pode ser chamada de perda sensorial dupla, ou comprometimento multissensorial. 

É importante ressaltar que apesar de associar duas deficiências, a surdez e a cegueira, a surdocegueira não é uma junção das duas. Por afetar os dois canais que os seres humanos têm para a recepção de informações a distância, ela é considerada uma deficiência única, com suas próprias características e desafios. Com isso em mente, a palavra surdocegueira começou a ser usada nos anos 1990, ao invés da expressão “surdos e cegos”. É por isso também que o termo surdocego é escrito junto e sem hífen, para indicar uma deficiência distinta.

Você sabia que para uma pessoa ser considerada surdocega ela não necessariamente precisa ser totalmente cega e surda? Isso acontece quando o resíduo de um desses dois sentidos não consegue compensar a perda do outro. Ou seja, quando a baixa audição não consegue suprir a perda visual. Ou também quando a baixa visão não pode balancear a perda auditiva.

Não existem informações muito precisas sobre a quantidade de pessoas surdocegas no Brasil hoje. Isso ocorre porque o Censo IBGE normalmente não considera pessoas com deficiências múltiplas. Além de impactar na profundidade do nosso conhecimento da surdocegueira, a falta de dados dificulta também a criação de políticas públicas que garantam a essas pessoas o acesso à educação, saúde, lazer e trabalho. Mesmo assim, ainda é possível encontrar algumas informações. O Censo Escolar de 2021, por exemplo, divulgou que existem 578 pessoas surdocegas matriculadas em escolas brasileiras de ensino regular. Ainda, a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima que existam no mínimo 40 mil pessoas com essa deficiência ao redor do mundo.

Os diferentes tipos de surdocegueira

Basicamente, a surdocegueira pode ser classificada entre dois diferentes tipos: congênita ou adquirida. As pessoas com surdocegueira congênita são aquelas que nascem com a deficiência, ou a adquirem muito cedo, antes de desenvolverem a comunicação em algum idioma. Já aquelas que possuem o tipo adquirido, são as pessoas que se tornaram surdocegas depois de aprenderem uma língua, seja ela oral ou sinalizada.

Além disso, a surdocegueira possui suas nuances. As pessoas com essa deficiência não necessariamente nascem já com ambas, ou adquirem as duas ao longo da vida. É possível, por exemplo, nascer cega e adquirir a surdez depois, ou vice-versa. 

As formas de comunicação das pessoas surdocegas

As pessoas surdocegas podem se comunicar de diversas formas, e algumas delas talvez você nem conhecia antes. Aqui vamos explicar os principais meios de comunicação delas, se liga!

  • Libras Tátil: é um meio de comunicação baseado na Libras (Língua Brasileira de Sinais). A pessoa surdocega interpreta o que está sendo dito por alguém, ao colocar as mãos sobre a sinalização em Libras. A comunicação em Libras Tátil acontece no Brasil, enquanto os outros países do mundo usam a forma tátil de suas próprias Línguas de Sinais.
  • Braille Tátil: é um método alfabético baseado em Braille, em que a pessoa interpreta os pontos Braille por meio do tato.
  • Alfabeto Datilológico: basicamente a datilologia pode ser considerada como o alfabeto em Libras. Dessa forma, a pessoa surdocega sente em suas mãos as palavras que estão sendo soletradas.
  • Língua de Sinais em Campo Reduzido: essa forma de comunicação normalmente é usada por pessoas surdas e com baixa visão. Assim quem fala com elas se posiciona dentro de seu campo de visão, e sinaliza em Libras.
  • Tadoma: a pessoa surdocega coloca as mãos no rosto e pescoço de quem está falando. Assim, ela sente a vibração da voz e os movimentos da boca, e pode interpretar a mensagem que está sendo dita. Inclusive, você pode conferir um dos nossos Hand Talk Shows em que tivemos uma convidada surdocega que usava Tadoma.
  • Placas Alfabéticas: esse meio de comunicação consiste em placas de plástico, com letras e números em alto relevo, e em alguns casos cores contrastantes também. As pessoas surdocegas então se comunicam pelo tato.
  • Placas Alfabéticas em Braille: essa forma de comunicação tem a mesma proposta da anterior, mas ao invés de usar o alfabeto em alto relevo, utiliza os números e letras em Braille.
  • Fala Ampliada: feita para pessoas que usam Aparelhos de Amplificação Sonora (AASI). A comunicação acontece pela língua oral, em um volume mais alto, próximo ao ouvido da pessoa surdocega.
  • Escrita Ampliada: pensada para pessoas surdocegas com baixa visão, esse meio de comunicação apresenta letras em tamanho maior e com mais contraste, evidenciando as palavras escritas.

Além de todas essas formas de comunicação, as pessoas surdocegas contam principalmente com profissionais guias-intérpretes. Eles são especialistas na comunicação e apoio a essas pessoas. Seu trabalho é majoritariamente a interpretação da comunicação, descrição visual e as funções de guia vidente.

O dia da pessoa surdocega

Anualmente, no dia 27 de junho, é celebrado o Dia Internacional da Pessoa Surdocega. Agora, você sabe o porquê disso? Essa é a data de nascimento de Helen Keller, um grande símbolo de luta e defensora dos direitos das pessoas com deficiência.

Helen nasceu com surdocegueira, foi alfabetizada em Língua de Sinais Tátil, e é a primeira pessoa com essa deficiência a se formar em um curso superior. Ela ainda foi escritora, conferencista e uma grande ativista nos Estados Unidos.

Aqui no Brasil também comemoramos o Dia Nacional das Pessoas Surdocegas, em 12 de novembro. A data foi marcada pelo começo do I Seminário Brasileiro de Educação do Deficiente Áudio Visual (SEDAV).

Independente da data, a existência de um dia que reconheça, exalte e dê visibilidade para as pessoas surdocegas é essencial. Datas comemorativas como essas precisam ser lembradas. São elas que também estimulam ações de inclusão e sensibilização na sociedade, promovem debates sobre políticas públicas, levantam novas informações sobre o tema, e combatem todas as formas de discriminação. Agora que você já conhece mais sobre a surdocegueira, é seu papel também lutar pela inclusão dessas pessoas e pela quebra das barreiras que elas enfrentam todos os dias. Seja aprendendo Libras, seja pensando no alto contraste do seu conteúdo ou até mesmo estando mais perto de pessoas com essa deficiência, é sempre possível contribuir para um mundo mais justo e humano.

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