Preconceito linguístico: o que é, exemplos e como combater?

Capa blog post preconceito linguístico. Imagem retangular na horizontal de fundo verde. O Hugo está ao centro da imagem apontando com o dedo indicador para frente. Ao redor dele existem ilustrações de bocas, ponto de interrogação, livros e o símbolo de Libras.

O preconceito é considerado como o ato de formular uma opinião ou julgar determinada pessoa ou situação, antes de conhecê-la na prática. Há diferentes formas de preconceito, entre elas o preconceito linguístico, que se relaciona com o modo que a pessoa se comunica ou a língua falada por ela.

A representação caricatural de personagens brasileiros em conteúdos audiovisuais, quando retratam a fala de nordestinos, por exemplo, é uma demonstração de preconceito linguístico ainda pouco discutida, mas presente em diferentes esferas da sociedade.

Para entender mais sobre o tema e quais são as melhores estratégias de combate ao preconceito linguístico, vem com a gente. Continue a leitura!

O que é preconceito linguístico?

O fenômeno conhecido como preconceito linguístico consiste na discriminação de pessoas que falam ou escrevem de forma diferente daquela estabelecida como padrão. 

Quantas vezes você ou outras pessoas já viram a frase: “Eu não sei falar português direito”? Essas palavras, que podem ser ditas por uma pessoa que não teve pleno acesso à educação, são representativas do fenômeno do preconceito linguístico.

Isso porque, ao afirmar não saber se comunicar direito com a língua portuguesa, a pessoa utiliza como parâmetro a norma culta, traduzida por gramáticas e manuais de língua portuguesa.

Dessa maneira, o preconceito linguístico utiliza como base a gramática, em lugar de trazer o protagonismo para a língua, um organismo vivo e em constante evolução.

Preconceito linguístico no Brasil

No Brasil, o preconceito linguístico acontece em razão de determinados fatores, como tempo, espaço e classe social, manifestados por meio do fenômeno conhecido como variação linguística.

A variação linguística se traduz nas diferentes formas de falar e se expressar em sociedade. No Brasil, em virtude das dimensões continentais do país, é possível observar inúmeras variações linguísticas, culturais e fonéticas.

É o caso de regiões com pronúncia mais acentuada da letra “r”, como acontece no estado de São Paulo, ou o “s” em regiões do Rio de Janeiro. 

No entanto, a caracterização dessa forma de falar como “feia”, “bonita”, “certa” ou “errada”, está intimamente relacionada ao português falado pela classe média e alta da zona urbana, que impõe a sua linguagem como certa, em virtude do seu poder de influência.

Quem sofre preconceito linguístico?

Os principais alvos do preconceito linguístico são grupos que se afastam dos modos de falar determinados pela norma culta e da linguagem das classes urbanas.

Normalmente, se relaciona a grupos com alguma característica de vulnerabilidade em razão de gênero, classe, raça, padrão de renda, acesso à educação, deficiência e local de nascimento.

Sendo assim, pessoas com pouco grau de acesso à educação, que nasceram em regiões mais afastadas da zona urbana ou dos grandes centros urbanos, com baixo nível de renda, são os principais alvos do preconceito linguístico.

Por outro lado, como está relacionado principalmente à linguagem falada, pessoas com deficiência auditiva, pessoas surdas e pessoas mudas são invisíveis neste processo e também são alvo do preconceito linguístico.

Quais os exemplos de preconceito linguístico?

O preconceito linguístico pode se manifestar na fala e na escrita e sofrem influências da variação linguística associada à região de nascimento de quem fala, o tempo, espaço e classe social em que a pessoa se encontra inserida. Vamos analisar alguns exemplos?

Preconceito linguístico na pronúncia

Esse é uma forma de preconceito que está diretamente ligado à pronúncia das palavras, relacionado intimamente com variações regionais.  

No Brasil, pessoas nascidas nas regiões norte e nordeste são alvo de preconceito linguístico pela sua fala, cujo sotaque se difere das regiões sul e sudeste (considerados grandes centros urbanos do país). A xenofobia também se faz muito presente aqui. 

Pronúncia mais acentuada da letra “t” em cidades do interior do nordeste, verbos no gerúndio sem o “d”, como na Bahia e Minas Gerais e o “s” com som de “x” de quem vive no Rio de Janeiro são alguns exemplos.

Por se comunicarem em Libras, pessoas surdas também são alvos de preconceito linguístico, por não usarem o português como língua principal. Desse modo, frequentemente são vistas como inferiores ou com pouco nível intelectual. 

Preconceito linguístico na gramática

Na gramática, quando há erros na escrita, fala ou concordância das palavras, é quando o preconceito linguístico mais aparece.

“Menas”, “as casa”, “firmadeira”, “a gente vamos”, “fez mal para eu”, “truce” entre outros, são exemplos de comunicação diferente do estabelecido conforme a norma culta.

Isso é algo muito comum no preconceito linguístico, mesmo quando as duas partes envolvidas na comunicação conseguem entender a mensagem.

Quais são as principais causas do preconceito linguístico?

A raiz principal do preconceito linguístico no Brasil está relacionada à comunicação distinta de uma forma padrão utilizada por milhões de habitantes do país.

Afinal, a linguagem é utilizada como instrumento de dominação e diferenciação de pessoas. E quanto mais afastadas do padrão normativo estabelecido, maior a marginalização e discriminação de certos grupos.

A seguir, veja os principais fatores que levam ao preconceito linguístico.

  • Preconceito regional

O Brasil é um país gigante, diverso, porém muito desigual. Portanto, pessoas nascidas em regiões afastadas dos centros urbanos ou dos estados mais ricos do país, costumam ser alvo de preconceito regional.

Falas carregadas de estereótipos sobre hábitos e costumes de pessoas nascidas no Nordeste, por exemplo, são expressões do preconceito regional, que tratam boa parte dos estados do Brasil como uma unidade sem diferenciação e características próprias. 

As variações regionais também estão presentes dentro da comunidade surda. Pessoas de distintas localidades do país usam diferentes sinais para expressarem uma mesma palavra. 

  • Preconceito socioeconômico

Em razão da desigualdade social no Brasil, pessoas com menor poder aquisitivo não só possuem poucas oportunidades, como são vistas como inferiores e culpadas pela sua situação econômica.

Desse modo, pessoas que vivem em periferias, usam transporte público e não possuem amplo acesso a bens de consumo são alvo de preconceito socioeconômico.

  • Preconceito cultural

Além do preconceito regional e socioeconômico está o preconceito cultural ou intelectual, vivenciado por aqueles que por diferentes fatores possuem pouco acesso à educação formal, viagens, livros e visitas a museus e outros equipamentos culturais.

Por tal motivo, estimula-se a crença de que estas são pessoas inferiores e até mesmo desinteressadas. Portanto, são colocadas em segundo plano, o que impacta não só em oportunidades de trabalho, mas de socialização.

Qual a relação entre preconceito linguístico e variação linguística?

O preconceito linguístico alimenta a ilusão de que, no Brasil, fala-se apenas uma língua portuguesa: aquela ensinada nas escolas.

Assim, a norma culta estabelecida nas gramáticas é supervalorizada, em detrimento da linguagem falada no cotidiano pelos milhões de brasileiros. E é essa a principal relação entre preconceito linguístico e variação linguística.

Enquanto a variação aborda as diferentes maneiras de comunicar uma mesma palavra, na mesma língua, o preconceito linguístico diz que existe um determinado jeito de comunicar a referida palavra.

Um exemplo pode ser a maneira de se referir a uma paquera. Se na época de seus pais a palavra era pretendente, hoje é “crush”, “mina”, “@”, entre outras variações, que também sofrem influência das mídias digitais.

O mesmo acontece com os pronomes de tratamento. Há locais em que se fala “você”, “ocê”, “tu”. E todos eles conseguem comunicar a mensagem com exatidão.

Outro ponto importante a se considerar é a mudança que a língua sofre ao longo do tempo, espaço, classe social, gênero e outros fatores. Todas essas mudanças são representações da identidade cultural de quem fala e, como tal, devem ser respeitadas.

Qual a relação entre norma culta e o preconceito linguístico?

A norma culta, linguagem padrão ou formal, se traduz nos modelos de língua tidos como ideais a partir de livros de gramática, dicionários e na própria forma de falar de grupos considerados como dominantes e influentes.

Atenção às regras gramaticais, de concordância verbal, nominal, regência, entre outros aspectos, estão ligados à norma culta da língua portuguesa.

Por outro lado, o preconceito linguístico é justamente a discriminação de pessoas que se afastam do modelo consagrado como único a ser usado para efetuar a comunicação.

Ao fazer isso, a norma culta desconsidera o uso coloquial da linguagem, em situações informais e sem a exigência da chamada linguagem padrão, bem como as características e identidade cultural do falante.

Da mesma maneira, a norma culta despreza outras formas de comunicação de linguagem, praticada por pessoas constantemente colocadas à margem da sociedade por não estarem no padrão imposto pela comunidade.

Por que o preconceito linguístico deve ser combatido?

O preconceito linguístico deve ser combatido porque a língua não está a serviço da gramática. Ela é um organismo vivo, em constante mudança e evolução, com poder de representar a cultura e história de diferentes povos e regiões.

Da mesma maneira, o preconceito linguístico deve ser combatido para promover a inclusão de pessoas frequentemente discriminadas pela sua origem, classe social, raça ou por apresentar alguma deficiência que, de algum modo, traga impactos para a linguagem e manifestação do pensamento.

Igualmente, combater o preconceito linguístico é desfazer a crença de que há somente uma forma de se comunicar, caminho justo para promoção da democracia e sociedade mais igualitária.

Consequências do preconceito linguístico

A principal consequência do preconceito linguístico é a marginalização daqueles que não falam da forma padrão ou esperada pela maioria e são alvos de piadas, comentários repletos de estereótipos e a falta de acessibilidade em diferentes espaços.

Isso porque, quando se fala em preconceito linguístico, não é só os falantes de língua portuguesa que são atingidos. Pessoas que fazem uso de Libras também são inclusas no preconceito e rejeição social. Você já deve ter se deparado com vídeos em que pessoas tentam imitar intérpretes ou pessoas surdas fazendo mímicas ou usando expressões pejorativas por aí. 

Portanto, o preconceito linguístico reforça concepções culturais que estimulam a estigmatização de pessoas na sociedade e colocam certos grupos como superiores a outros, apenas pelo fato de não se utilizarem dos mesmos instrumentos para se comunicar.

Como acabar com o preconceito linguístico?

Para acabar com o preconceito linguístico, o conhecimento deve ser o primeiro passo em direção a uma sociedade mais justa e inclusiva.

Assim, estimular o ensino da língua portuguesa a partir da perspectiva de diversidade linguística deve ser o ponto de partida de educadores para incentivar a aceitação e respeito às diferentes formas de falar o idioma.

Em seguida, o reforço à ideia de adaptação linguística deve ser inserido pelos educadores, a fim de mostrar que existem línguas indicadas para cada situação do cotidiano, como entrevista de emprego e conversa com amigos.

O ideal é estimular a linguagem como identidade cultural do indivíduo, em lugar de colocá-la como algo a ser consertado ou ajustado. Toda língua se relaciona com o sujeito, sua história e diferenças.

Conclusão

O preconceito linguístico acontece a todo momento e em qualquer lugar e é nosso dever agir não só para conhecer e evitar práticas discriminatórias, mas para promover a inclusão daqueles colocados à margem na sociedade.

Para conhecer ainda mais sobre preconceito linguístico, capacitismo e diferentes conteúdos sobre acessibilidade, diversidade e inclusão, confira o nosso blog e mergulhe ainda mais nesse universo. 

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