Atualmente no Brasil convivem mais de 10 milhões de pessoas surdas, e grande parte delas se comunicam majoritariamente em Libras. Apesar da Língua Brasileira de Sinais ser reconhecida por lei no nosso país desde 2002, ela ainda não está presente em ambientes muito importantes, como as instituições de ensino. Ou seja, temos várias pessoas surdas que precisam dessa língua para se comunicar e ter acesso às informações, mas a educação brasileira não inclui o ensino de Libras na maioria das escolas.
Inspierados no Dia Internacional da Educação (24 de janeiro), vamos entender mais a fundo sobre a importância do ensino de Libras e quais ações você pode tomar para apoiar essa causa. Vem com a gente!
O ensino de Libras pode ser dividido em duas categorias: para as pessoas surdas ou para as pessoas ouvintes. Muitas pessoas surdas nunca aprenderam Libras formalmente. Isso ocorre porque elas normalmente são as primeiras da família com surdez, então ninguém do seu entorno tem contato com o idioma. Outras vezes, ocorre por conta do ouvintismo presente na sociedade, que impede as pessoas surdas de aprenderem a língua de sinais, e as faz se adaptar à língua falada de seu país. No caso do Brasil, o português.
O ensino focado nas pessoas da própria comunidade surda muitas vezes é feito direcionado para crianças que não possuem o domínio da língua de sinais. Dessa forma, as escolas devem se preocupar em criar ambientes propícios para o aprendizado da Libras em primeiro lugar, e só depois para o ensino do português.
Agora, ensinar Libras para pessoas ouvintes é um outro processo, mas também muito importante! Vamos falar mais sobre esse tema ao longo deste artigo. De qualquer forma, o que você já precisa entender é que o foco do ensino de Libras é promover uma melhor comunicação e acesso à informação para as pessoas da comunidade surda.
A Libras, Língua Brasileira de Sinais, é uma língua espaço-visual, com uma estrutura linguística e gramatical própria, diferente do português. Ela é uma das principais formas de comunicação das pessoas surdas no Brasil. Seu objetivo é promover a comunicação e o acesso à informação das pessoas surdas, para que possam estar integradas à sociedade.
Além disso, a Libras é um fator muito importante para a construção da cultura e identidade da comunidade surda brasileira. É por meio dela que muitas vezes as pessoas surdas garantem suas interações culturais e sociais.
Antes de nos aprofundarmos, é importante te contextualizar um pouco do cenário da educação para pessoas surdas no Brasil. Até o século passado, as instituições de ensino insistiam na oralização dos alunos surdos. Ou seja, eles não eram livres para aprender e se comunicar da forma que preferiam, e tinham que ser ensinados a falar português e fazer leitura labial.
O processo de oralização tinha como objetivo tentar integrar as pessoas surdas na sociedade ouvinte, para que elas fossem consideradas “normais” e se adequassem à essa cultura. Quem não se adaptava a esse modelo de comunicação era prejudicado, tinha maus resultados na escola e várias dificuldades em avançar na vida acadêmica.
Por conta disso, hoje as escolas ainda não estão preparadas para acolher estudantes surdos. As pessoas surdas precisam de ambientes educacionais estimulantes, que desafiem o pensamento crítico e exercitem sua capacidade cognitiva. É então que a Libras entra em ação. Oferecer ensino de Libras é super importante para garantir um tratamento mais igualitário entre todos os alunos, para que eles tenham as mesmas oportunidades de aprendizagem, cada uma de acordo com suas necessidades. Além do que, educação em Libras é um direito por lei, mas calma que ainda vamos falar mais sobre isso.
Por fim, o ensino de Libras é uma ótima maneira de valorizar e empoderar a comunidade surda e sua cultura, a deixando mais em evidência perante a sociedade como um todo.
Ensinar Libras desde cedo para as crianças é super positivo para o desenvolvimento de suas potencialidades, sejam elas surdas ou ouvintes. Como você deve saber, aprender novas línguas é algo muito mais fácil de se fazer na infância, então é uma época que deve ser aproveitada para desenvolver nos alunos uma aprendizagem mais significativa.
Para as crianças surdas especificamente, estar em uma instituição de ensino onde se pode aprender no seu primeiro idioma deixa tudo mais confortável. Estar em um ambiente que valoriza a diversidade e promove a interação cultural e social é bastante importante para que ela consiga construir suas relações e não ficar à margem da escola.
São vários os benefícios de uma pessoa ouvinte aprender Libras. O mais óbvio é que ela conseguirá melhorar sua comunicação com pessoas da comunidade surda no Brasil, mas as consequências dessa aproximação também são bem importantes. A pessoa ouvinte vai aprender sobre a cultura surda, valorizando cada vez mais a diversidade cultural e se aliando às pautas de inclusão. Ainda, vai ajudar a promover uma sociedade menos capacitista, independente da sua idade.
Agora, para as crianças, o ensino de Libras é ainda mais positivo. Estudos indicam que, se aprendem desde cedo, a Língua de Sinais é um fator significativo no desenvolvimento cognitivo, melhorando suas habilidades de atenção, a discriminação visual e a memória espacial.
O ensino de Libras muda de acordo com quem está aprendendo. Por exemplo, ensinar a Língua Brasileira de Sinais para uma pessoa surda será muito diferente do que ensinar o idioma para uma pessoa ouvinte. De qualquer forma, os educadores devem sempre ter em seu planejamento didático estratégias variadas que foquem na modalidade visual do ensino.
Mas vamos lá, o ensino de Libras para pessoas surdas é chamado de L1. Nele, o professor deve explorar principalmente o sentido visual, já que é assim que o aluno conseguirá aprender toda a estrutura gramatical da língua de sinais. Essa forma de ensino é conhecida como Pedagogia Visual ou Pedagogia da Diferença.
Já quando a Libras é ensinada para pessoas ouvintes, é chamada de L2. Com esse método o educador pode fazer uso tanto da visão para ensinar a maneira certa de se sinalizar, quanto a oralização para explicar o significado dos sinais.
Os cursos de Libras que temos disponíveis hoje diferem muito entre si. Isso ocorre porque ainda não temos um currículo sistematizado, apesar dos pedidos por parte de entusiastas da causa para que isso aconteça.
Muitas vezes, o ensino de Libras é feito na forma de cursos isolados ou desvinculados das instituições educativas. Então, eles acabam sendo mais superficiais, se resumindo ao ensino do vocabulário básico e estruturas gramaticais simples.
De qualquer forma, cursos de Libras normalmente abordam os seguintes temas:
De acordo com o artigo 58 da LDB, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, todas as pessoas surdas têm o direito de frequentarem as escolas públicas. No entanto, a grande maioria dos professores não está preparada para recebê-los e ensiná-los. Sendo assim, é fundamental contar com os intérpretes de Libras para criar um bom currículo de ensino e uma boa experiência para todos os alunos.
Esses profissionais não irão apenas traduzir as aulas, mas também buscar em conjunto com os professores metodologias de ensino diferenciadas que favoreçam o aluno surdo. Inclusive, você sabia que existe até uma especialização para intérpretes de Libras que trabalham na educação? São os intérpretes educacionais.
Além disso, para implementar cursos de Libras efetivos na escola, o ideal é adotar a filosofia da educação inclusiva, ao invés da integrativa. Ambas querem apoiar o ensino dos alunos com deficiência, mas a inclusiva busca transformar o sistema de ensino em si, para acabar com as barreiras que limitam sua aprendizagem e participação.
Vale dizer que, independente da metodologia que seja escolhida, criar um programa de ensino de Libras é algo que exige bastante planejamento. É preciso contar com os profissionais certos que tenham experiência na área, além de treinar e educar toda a equipe para que aprenda a trabalhar com Libras e com alunos surdos.
Dados do Ministério da Educação (2023) apontam que na educação básica o Brasil possui mais de 17 mil estudantes surdos, 37 mil que possuem algum grau de deficiência auditiva e 548 alunos surdocegos. Enquanto isso, de acordo com um estudo realizado pelo Instituto Locomotiva e a Semana da Acessibilidade Surda, apenas 7% dessas pessoas surdas possuem nível superior completo. Ainda, 15% se formou no ensino médio, 46% chegou até o final do ensino fundamental e 32% não concluíram nenhum nível formal de escolaridade.
Essas informações são importantes para percebermos que o ensino de Libras e a educação de pessoas surdas no geral ainda está bem abaixo do ideal. Ainda hoje são poucas as instituições como o INES (Instituto Nacional de Educação de Surdos) que oferecem currículos bilíngues em Libras e português, apesar das leis vigentes.
Vamos nos aprofundar em algumas delas agora.
A Lei Brasileira de Inclusão (LBI) é uma das principais legislações quando se trata dos direitos das pessoas com deficiência. Ela possui um capítulo inteiro dedicado à educação, e graças a ele o MEC (Ministério da Educação) lançou a portaria nº 20, voltada para as instituições de ensino superior. Essa portaria exige que as faculdades estejam acessíveis seguindo a legislação em vigor. Sem seguir essa lei, as universidades não conseguem credenciar ou recredenciar seus cursos.
» Leia também: Lei Brasileira de Inclusão: o que é, como foi criada e o que diz?
Mais recentemente, em 2021, foi aprovada a Lei nº 14.191, que determina uma educação bilíngue para pessoas surdas, tendo a Libras como primeira língua, e o português escrito como segunda. A proposta é iniciar esse projeto na educação infantil, mas fazer com que ele siga toda a jornada educacional do estudante surdo.
Por fim, está tramitando no Senado Federal hoje o Projeto de Lei nº 5961 de 2019, que busca incluir “nos currículos do ensino fundamental e do ensino médio, para todos os alunos, sejam surdos ou ouvintes, conteúdos relativos à Língua Brasileira de Sinais (Libras)”. A ideia é justamente promover um sistema de educação inclusivo na prática.
Como já comentamos, o Brasil sofre atualmente com a falta de profissionais qualificados para tocar projetos de ensino de Libras. Por exemplo, poucas pessoas surdas tiveram acesso ao ensino superior e, apesar do curso de Pedagogia ter sido um dos mais escolhidos por esse grupo, a abordagem das aulas era direcionada a alunos ouvintes.
Ou seja, a maioria dos professores de cursos de Libras não possuem esse idioma como primeira língua, e muitas vezes nem fazem parte da comunidade surda. Isso apenas reforça a cultura do ouvintismo na nossa sociedade, prejudicando a qualidade do aprendizado de alunos surdos. O resultado desse cenário é um distanciamento cada vez maior entre o estudante surdo e o conhecimento escolar, e até da própria Libras, infelizmente.
Até pouco tempo atrás, a única instituição que formava profissionais para o ensino de Libras era a FENEIS, a Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos. Ou seja, não existem muitos deles qualificados disponíveis no mercado, e nem interesse por parte das escolas em capacitar os educadores que já fazem parte de suas equipes. De qualquer forma, é essencial que exista uma formação contínua de professores e intérpretes especializados no ensino de Libras.
O papel desses profissionais é prestar atenção na vida do aluno surdo para incluir suas vivências externas dentro da sala de aula. Dessa maneira, os sinais, histórias e hábitos que fazem parte da cultura surda, poderá ser transmitida da forma correta no ambiente escolar.
O ensino de Libras é essencial para que a gente possa promover a inclusão das pessoas surdas, e de outras que se comunicam na Língua Brasileira de Sinais. A legislação focada nessa tema está começando a tomar forma e a ser exigida pelo governo, mas ainda está apenas no começo da sua jornada de evolução. Então, é papel de todo mundo trabalhar para construir uma sociedade e um ambiente educacional de inclusão, e não apenas integração. Para saber mais sobre como desenvolver a área da educação em prol da acessibilidade e inclusão, confira nosso e-book sobre acessibilidade na educação!
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